CONFERÊNCIA-PERFORMANCE | “Os caminhos entre a estética e a ética” – Faculdade de Direito de Lisboa

Fotografias de Rui Morais e Castro

Notas sobre a Conferência-performance: “Os caminhos entre a estética e a ética”

A Dança escreve a direito por linhas improváveis e sinuosas. 

Foi a dança que me fez abandonar o Direito e foi a Dança que me fez voltar ao Direito. 

Vinte e muitos anos depois, regresso à Faculdade de Direito da Universidade de Direito de Lisboa com uma conferência-performance, a convite da Professora Fernanda Palma, coordenadora do Centro de Investigação de Direito Penal e Ciências Criminais, e com o qual colaboro como investigadora desde 2024. 

Reconheço-me desses tempos de Dura Lex, sed Lex, uma figura transparente quase estática, suspensa no teto do auditório, apagada por uma levitação triste e sem direção. 

Foi precisamente no violento embate entre as massas abstratas e frias do Direito e as massas efervescentes e criativas da Dança, que entendi que o meu corpo não era a resposta a um conjunto de imperativos familiares e sociais, nem uma sequência de atributos mais ou menos precisos, muito menos a soma de partes singulares ou aos pares, irremediavelmente desproporcionadas.  

Foi na colisão entre o mundo da Dança e do Direito- à data irreconciliáveis- que entendi que o meu corpo era um campo de forças, pigmentações e intensidades, que eu podia direcionar, mas não controlar. 

E fiz-me à dança da vida, 

 (que a vida já se fazia tarde). 

Hoje, vejo-me deitada no chão do auditório perante uma audiência, não me encontro espelhada no teto da sala. 

Vou falando, movendo, desmontando o espaço e revelando os corpos que fazem justiça ao CORPOEMCADEIA. O público está presente, envolve-me com a sua respiração atenta. 

Volto a esta casa com a alegria bruta da criação e da reflexão partilhada. Sou recebida num abraço redondo e não direito.  

Como esvaziar as leis dos seus donos e senhores ?

 Como moldar com as mãos  os valores da Justiça e da Liberdade ?

Como arriscar práticas de coexistência sem o martelo que censura os corpos, a imaginação e a linguagem ?

As perguntas pedem movimento e convido alguém da audiência para dançar. 

 Entretanto, enquanto falamos, escrevemos, dançamos, a greve no Linhó continua e o reinício das atividades permanece no segredo dos homens que arrastam molhos de chaves e certezas. 

Mas hoje foi um dia feliz, os portões da Faculdade de Direito abriram-se às leis da gravidade. 

Catarina Câmara 

8 de Abril de 2025

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