
6 de Abril
O inesperável do dia: ainda nem tínhamos iniciado o ensaio, ouve-se A VOZ distorcida vinda do pátio que grita sempre algo que nunca consigo entender. Mas os ouvidos destes homens estão exercitados para decifrar […]. Sei que é um número que ecoa como no bingo. E bingo, J. sai da sala de ensaios a correr. Pergunto o que se passa a meio caminho, ele olha para trás apressado e num relance faz o gesto com a mão de falar. Sem perceber nada pergunto aos outros o que se passa eles dizem “tem de ir falar”.
Já tarde começo o ensaio sem perceber o que se passou. No final vim a saber que tinham chamado o seu número para ir falar com a educadora.
Sem o J., começámos por limpar a sequência dos sacos. Depois marquei 4 quedas e intercalei com o(s) andar(es). Fomos fazendo por fases até ficarem soltos a improvisar. E aí começou a aparecer a força do confronto com o desconhecido, com a composição em tempo real. A música “Horse power” ajudou-os.
Os corpos destes homens estão desarmados, desvitalizados.
Estes homens não sabem andar com vigor, não conseguem correr.
Estes homens estão presos.
Olga Roriz