Em Janeiro de 2022 iniciou-se o Ciclo Corpo Criativo, com a criação artística “A minha história não é igual à tua”, dirigida pela coreógrafa Olga Roriz, com antestreia prevista no Estabelecimento Prisional do Linhó (em data a confirmar) e estreia, marcada para 10 de Julho de 2022, na Fundação Calouste Gulbenkian.
O espetáculo “A minha história não é igual à tua” será, posteriormente, apresentado no Teatro Experimental de Cascais, nos dias 5 e 6 de Agosto de 2022.
Estão igualmente previstos, nos primeiros 6 meses do ano, vários ensaios abertos à comunidade do Estabelecimento Prisional, como uma forma de acompanhamento do processo de criação.
Paralelamente, continuam a ser realizadas as sessões “Práticas para a liberdade” com Catarina Câmara e Nelson “Henda” Vieira Lopes (às 2ªfeiras), bem como as sessões de dança contemporânea com o professor Yonel Serrano (às 4ªfeiras).

[ Notas de criação de Olga Roriz ]
Percurso
Após um longo caminho de aproximação, descoberta mútua, uma outra liberdade se desvenda a cada encontro.
As partilhas são discretas, a medo… porém intensas.
Estórias reclusas à espera de tomarem forma. Tudo é novo e inesperado.
Uma palavra, um gesto, uma figura que se deixa escapar como na sombra.
Pouco mais há que vontade, uma vontade desenfreada, uma fuga do corpo.
Libertar o pensamento e voar, porque: “Há alturas da vida em que estamos em baixo e outras em cima. Às vezes sinto que estou rente ao chão.”
Desejos
Eu de malas feitas cheias de coisas que sei, sinto que os meus pertences para nada me servem aqui.
Aqui neste lugar de reclusa liberdade, nesta vontade desmedida de querer saber, entrarei em voo, não conseguindo sair do mesmo lugar.
Vou sentir-me pequena, pequenina… e cumprir com eles um desígnio, um destino inopinado.
Interseção
A interseção do real e do imaginário.
Vidas íntimas, intimidadas, intensas destes seres vulneráveis e fortes.
As lesões infringidas e as suas próprias feridas.
Sedução e agressão.
Eu e os outros. Mesmo, eu e os outros!
Eu e cada um deles seria demais.
É esse demais que procuro!
A dança que estes corpos escondem está à flor da pele mas sem relação com o ser e o estar.
Homens que procuram uma vida escavando no olhar uma saída.
Vamos abrir frechas para um possível exterior, um mundo lúdico, uma verdade executável.
Vamos construir algo bom ou mau mas que nos salve por alguns longos momentos, muito longos.